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15 abril 2017

Esperando…

Cruz da GuatemalaSábado Santo veio novamente. É sempre um daqueles dias em que eu não sei o que pensar ou que sentir sobre ele. Como a maioria dos sábados, a igreja está calma e tranquila, exceto pela agitação da atividade dos que cuidam do altar da Igreja, preparando o altar e para as celebrações do dia seguinte. Além disso, é mais um dia na vida da igreja, um dia em que não há reuniões em qualquer uma das salas e salões paroquiais, somente à noite para realização da Vigília Pascoal (aqueles que fazem), há uma aparente sensação de espera.

Sobre a espera que eu penso no Sábado Santo. Recentemente, um número de pessoas que eu conheço estão passando pela dor de esperar por várias coisas, algumas delas pela morte de seus entes queridos. É uma libertação para os moribundos, mas é uma dor para aqueles que estão esperando. Esperar assim custa muito para uma pessoa, significa a perda iminente de alguém muito importante em suas vidas. Por outro lado, é sensação de medo ver outro lado da cama vazia ou um quarto vazio, porque pode ser apenas no momento em que o amado passe para uma vida melhor. Continua sendo difícil para nós, e mesmo sabendo que vai acontecer, nunca estamos realmente e totalmente preparados para isso.

Penso em Maria, na mãe de Jesus, e naqueles que amavam Jesus, especialmente Maria Madalena e as outras que a acompanhavam sob a sombra da Cruz e observavam como seu amado sofria e morria sabendo que não podiam fazer nada para preveni-lo ou aliviá-lo da dor. Foi corajoso delas estar onde estavam e compartilhar o que estava acontecendo naquele momento. Elas eram corajosas porque eram mulheres, e era incomum que estivessem em um lugar de execução para criminosos. Mas em seu caso, convenção, regras, tradição, tudo foi rompido. Elas precisavam estar onde ele estava, e eu acho que Jesus sabia que elas estavam lá. Talvez em uma pequena parte de seu cérebro não consumido pela dor e a perda, ele as abençoou por ficarem com ele. Deve ter sido difícil esperar, com o sol forte sobre elas, sem bancos ou cadeiras para sentar-se, certamente as únicas a dar-lhes qualquer simpatia em tudo, foram as únicas do seu pequeno grupo a estar lá. Ainda assim elas esperaram, assim como nós, na igreja, esperamos e observamos e oramos desde a Sexta-Feira Santa até o momento de nos reavivarmos na Vigília Pascal.

Para elas, o fim veio e libertou-as da agonia da visão da morte, mas estava tão perto do pôr-do-sol que não tiveram tempo para preparar o corpo para o enterro como fariam normalmente. O corpo foi tirado da cruz e rapidamente levado para o túmulo, onde a pedra foi rolada sobre ele e elas não podiam entrar. Elas tiveram que esperar até o sábado terminar antes que elas pudessem voltar para fazer o que precisava ser feito. Então elas esperaram.

Os discípulos também esperavam, à sua maneira, naquela sala onde tinham se reunido pela última vez com Jesus (para última ceia) e se perguntaram o que iria acontecer com eles. Eles temiam que eles fossem conhecidos como seguidores de Jesus e, como tais, corriam o risco de serem presos e crucificados. Então eles ficaram sentados e preocupados com seu próprio futuro e o que deveriam fazer agora que não tinham liderança em um ambiente hostil. Os dois grupos esperaram, embora fosse um tipo diferente de espera.

Sábado Santo para a maioria das pessoas nos dia atuais é apenas um dia normal como outro sábado qualquer. Nós cortamos a grama do nosso jardim, vamos à loja fazer compras, ao shopping passear, e assistimos qualquer coisa na TV como uma forma de desligar da semana. Não estamos esperando, estamos ocupados fazendo várias coisas, continuamos com a vida, como se nada de importante acontecesse ou tivesse acontecido, ou seja, a menos que nós fôssemos surpreendidos por alguma coisa, onde nos obrigasse a ter que esperar.

Nesse momento, podemos nos colocar no mesmo lugar das mulheres ao pé da cruz. Estamos sofrendo, e olhamos para cima e vemos alguém que amamos sofrer ainda mais. Olhamos para o rosto de nosso Amado Jesus e esperamos ver o olhar de paz no tempo antes de suas últimas respirações, mas continuamos esperando até que o inevitável aconteça. Então, e somente então, podemos fazer do exame de consciência uma profunda reflexão e deixar as lágrimas rolar e expressar intensamente nossa própria dor.

Hoje é um dia de espera. É um dia para passar algum tempo contemplando e orando e acima de tudo assistindo com aqueles que sofrem, seja física, mental, espiritual ou emocionalmente. Pode ser um dia em que todos nós possamos juntar-nos àqueles que estão ao pé da cruz e depois esperar diante do túmulo selado, com fé que na manhã seguinte, nossas tristezas será cessarão e nosso choro se transformará em alegria.

Deus abençoe.

Por Linda Ryan, in Episcopal Cafe, Speaking of the Soul: Waiting.

traduzido por Daniel Rangel Cabral Jr com revisão de Gabi Greggensen

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