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26 março 2016

A Paixão de Jesus

(este texto é extrato do Ofício da Paixão - L.O.C. 2015 - realizado na Paróquia nesta Sexta Feira da Paixão; é partilhado aqui para servir com inspiração e meditação neste Sábado Santo - foram omitidas as orações, coletas e cânticos)

TRAIÇÃO
Lemos no Evangelho segundo João:   (João 18:1-5)
Tendo terminado de orar, Jesus saiu com os seus discípulos e atravessou o vale do Cedrom. Do outro lado havia um olival, onde entrou com eles.
Ora, Judas, o traidor, conhecia aquele lugar, porque Jesus muitas vezes se reunira ali com os seus discípulos.
Então Judas foi para o olival, levando consigo um destacamento de soldados e alguns guardas enviados pelos chefes dos sacerdotes e fariseus, levando tochas, lanternas e armas. Jesus, sabendo tudo o que lhe ia acontecer, saiu e lhes perguntou:
_"A quem vocês estão procurando? "
_"A Jesus de Nazaré", responderam eles.
_"Sou eu", disse Jesus. (e Judas, o traidor, estava com eles. )

E, também, no Evangelho segundo Mateus      (Mateus 26:48-50)
O traidor havia combinado um sinal com eles, dizendo-lhes:
_"Aquele a quem eu saudar com um beijo, é ele; prendam-no".
Dirigindo-se imediatamente a Jesus, Judas disse:
_"Salve, Mestre!", e o beijou.
Jesus perguntou:
_"Amigo, que é que o traz? "
Então os homens se aproximaram, agarraram Jesus e o prenderam.

Reflexão
Jesus recebe o traidor chamando-o de amigo. Recebe o beijo do amigo, que se torna sinal da traição.  Que tipo de amigo foi Judas? Tenho ou tive amigos tais como Judas? Que tipo de amigo eu tenho sido? Tenho sido amigo de Jesus?    

NEGAÇÃO
Lemos no Evangelho segundo Lucas:    (Lucas 22:54-62)
Então, prendendo-o, levaram-no para a casa do sumo sacerdote. Pedro os seguia à distância. Mas, quando acenderam um fogo no meio do pátio e se sentaram ao redor dele, Pedro sentou-se com eles. Uma criada o viu sentado ali à luz do fogo. Olhou fixamente para ele e disse:
_ "Este homem estava com ele".  Mas ele negou:
_"Mulher, não o conheço".
Pouco depois, um homem o viu e disse:
_"Você também é um deles".
 _"Homem, não sou! ", respondeu Pedro.
Cerca de uma hora mais tarde, outro afirmou:
_"Certamente este homem estava com ele, pois é Galileu".
Pedro respondeu:
_"Homem, não sei do que você está falando! "
Falava ele ainda, quando o galo cantou.  O Senhor voltou-se e olhou diretamente para Pedro. Então Pedro se lembrou da palavra que o Senhor lhe tinha dito:
_"Antes que o galo cante hoje, você me negará três vezes".
Saindo dali, chorou amargamente.
Reflexão
Teria sido o medo que levou Pedro a negar Jesus? o medo de ser perseguido ou preso? teria sido vergonha em reconhecer fazer parte do grupo de Jesus?  Como eu reagiria numa situação parecida? e se eu estivesse no lugar de Pedro, naquele momento de crise e desesperança? há outras formas de eu estar negando a Cristo hoje?
CONDENAÇÃO
Lemos no Evangelho segundo Marcos:    (Marcos 15:1-6; 11-15)
De manhã bem cedo, os chefes dos sacerdotes com os líderes religiosos, os mestres da lei e todo o Sinédrio chegaram a uma decisão. Amarrando Jesus, levaram-no e o entregaram a Pilatos.
_"Você é o rei dos judeus? ", perguntou Pilatos.
_"Tu o dizes", respondeu Jesus.
Os chefes dos sacerdotes o acusavam de muitas coisas. Então Pilatos lhe perguntou novamente:
_"Você não vai responder? Veja de quantas coisas o estão acusando".
Mas Jesus não respondeu nada, e Pilatos ficou impressionado.
Por ocasião da festa, era costume soltar um prisioneiro que o povo pedisse. Mas os chefes dos sacerdotes incitaram a multidão a pedir que Pilatos, ao contrário, soltasse Barrabás.
_"Então, que farei com aquele a quem vocês chamam rei dos judeus? ", perguntou-lhes Pilatos.
_"Crucifica-o", gritaram eles.
_"Por quê? Que crime ele cometeu? ", perguntou Pilatos. Mas eles gritavam ainda mais:
_"Crucifica-o! "
Desejando agradar a multidão, Pilatos soltou-lhes Barrabás, mandou açoitar Jesus e o entregou para ser crucificado.
Reflexão
Diante do poder do Império, Jesus responde com ironia e depois fica em silêncio, não deu qualquer importância ao que diziam sobre Ele. O poder absoluto do Império não merece resposta do Filho de Deus. Mesmo diante da injustiça, o Império tem de agradar às multidões. Quantas coisas hoje são feitas e faladas para agradar as multidões... será que eu mesmo, diante de muitas pessoas, digo coisas ou tomo atitudes para agradar, mesmo quando não concordo? Seria eu um bajulador? que se cala diante da injustiça e da mentira para não ser incômodo?
HUMILHAÇÃO
Lemos no Evangelho segundo Marcos:           (Marcos 15:16-21)
Os soldados levaram Jesus para dentro do palácio, isto é, ao Pretório e reuniram toda a tropa. Vestiram-no com um manto de púrpura, depois fizeram uma coroa de espinhos e a colocaram nele.
E começaram a saudá-lo:
_"Salve, rei dos judeus! "
Batiam-lhe na cabeça com uma vara e cuspiam nele. Ajoelhavam-se e lhe prestavam adoração. Depois de terem zombado dele, tiraram-lhe o manto de púrpura e vestiram-lhe suas próprias roupas. Então o levaram para fora, a fim de crucificá-lo. Certo homem de Cirene, chamado Simão, pai de Alexandre e de Rufo, passava por ali, chegando do campo. Eles o forçaram a carregar a cruz.
Reflexão
Zombaria e insultos, total falta de respeito para com a pessoa humana. Tudo isso Jesus suportou, talvez impressionado pela crueldade humana. Vestido com um manto púrpura, símbolo do Imperador, a ironia cruel: o Senhor do Universo, coroado com espinhos, vestido com o manto do Império, totalmente exposto: “Eis o homem!” exclama Pilatos em outra narrativa. Eis o humano! eis-me aqui! Humilhado, porque minhas atitudes não condizem com as afirmações da mídia e da moda. Também eu tenho prazer em humilhar alguém? Seria eu capaz de, como Simão de Cirene, mesmo forçado, carregar a cruz de outrem?
CRUXIFICÇÃO
Lemos no Evangelho segundo João:    (João 19:17-30)
Levando a sua própria cruz, ele saiu para o lugar chamado Caveira (que em aramaico é chamado Gólgota). Ali o crucificaram, e com ele dois outros, um de cada lado de Jesus. Pilatos mandou preparar uma placa e pregá-la na cruz, com a seguinte inscrição:
JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS.

Muitos dos judeus leram a placa, pois o lugar em que Jesus foi crucificado ficava próximo da cidade, e a placa estava escrita em aramaico, latim e grego.
Os chefes dos sacerdotes dos judeus protestaram junto a Pilatos:
_"Não escrevas ‘O Rei dos Judeus’, mas sim que esse homem se dizia rei dos judeus". Pilatos respondeu:
_"O que escrevi, escrevi".
Tendo crucificado Jesus, os soldados tomaram as roupas dele e as dividiram em quatro partes, uma para cada um deles, restando a túnica. Esta, porém, era sem costura, tecida numa única peça, de alto a baixo.
_"Não a rasguemos", disseram uns aos outros; "vamos decidir por sorteio quem ficará com ela." Isso aconteceu para que se cumprisse a Escritura que diz: "Dividiram as minhas roupas entre si, e tiraram sortes pelas minhas vestes".
Foi o que os soldados fizeram.
Perto da cruz de Jesus estavam sua mãe, a irmã dela, Maria, mulher de Cleopas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe ali, e, perto dela, o discípulo a quem ele amava, disse à sua mãe:
_"Aí está o seu filho",  e ao discípulo:
_ "Aí está a sua mãe".
Daquela hora em diante, o discípulo a levou para casa.
Mais tarde, sabendo então que tudo estava concluído, para que a Escritura se cumprisse, Jesus disse:
_"Tenho sede".
Estava ali uma vasilha cheia de vinagre. Então embeberam uma esponja nela, colocaram a esponja na ponta de um caniço de hissopo e a ergueram até os lábios de Jesus. Tendo-o provado, Jesus disse:
"Está consumado!"
Com isso, curvou a cabeça e entregou o espírito.
Reflexão
Vilipendiado e humilhado até a cruz, Jesus está nu e totalmente exposto ao escárnio público. Suas vestes são sorteadas! Espólio de um criminoso.
Mesmo assim, em meio à dor e à certeza da morte, Jesus mostra carinho com sua mãe. Um momento de ternura e de preocupação com aquela que O carregou em seu ventre e O criou. Um discípulo amado! Uma mãe em prantos! Uma preocupação, um pedido e uma entrega: “eis seu filho, eis sua mãe!”  Palavras de despedida antes da morte.
A morte! O destino de todos os seres humanos e de toda a vida, parte do movimento da natureza e da Criação.
Não era para ser assim, mas o Pecado fez isso. Da vontade indomável de poder absoluto, ser igual a Deus, resultou a  total fragilidade, a morte.
Com Sua morte, Sacrifício Único, Perfeito, Completo e Suficiente,   Jesus me garantiu o perdão dos meus pecados. O Cristo, o Filho de Deus, A Palavra Criadora, esvazia-Se na condição humana até a morte, e  morte humilhante, como diz São Paulo aos Filipenses.
Eu também vou morrer, algum dia. Todas as pessoas que eu amo, também morrerão um dia. O que deixarei? qual o meu legado? Estou pronto para despedir-me? Estou apto a dizer “está consumado!” e entregar minha Vida de volta a Deus? ou não será Deus quem virá recebê-la?  Só eu posso responder e decidir quanto a isso! Jesus me faz um convite! Posso aceitar ou rejeitar. É uma decisão sobre Vida ou Morte.                       
SEPULTAMENTO
Lemos no Evangelho segundo Mateus:      (Mateus 27:57-60)
Ao cair da tarde chegou um homem rico, de Arimatéia, chamado José, que se tornara discípulo de Jesus. Dirigindo-se a Pilatos, pediu o corpo de Jesus, e Pilatos ordenou que lhe fosse entregue.
José tomou o corpo, envolveu-o num limpo lençol de linho e o colocou num sepulcro novo, que ele havia mandado cavar na rocha. E, fazendo rolar uma grande pedra sobre a entrada do sepulcro, retirou-se.
Reflexão
O Cristo precisou de um túmulo emprestado. Não seria por muito tempo, mas precisou ser emprestado.  Muitas pessoas vivem hoje com Deus sepultado em seus corações e mentes. O vazio interior provocado pelo imediatismo e pelo egoísmo, é o sinal de que o Cristo está sepultado nessas pessoas e não pode assim despertá-las para a Vida! O coração humano, túmulo de Deus!

Serei eu um túmulo de Deus? o que mantenho em meu coração e minha mente? um deus morto? um deus sem vida?  ou o Cristo Ressuscitado, o Deus Vivo, que veio para trazer-me Vida em abundância? Sou como o túmulo emprestado por José de Arimateia, onde o corpo morto do Filho de Deus permanecerá por pouco tempo, o túmulo com esperança? Ou meu coração é um túmulo perpétuo de onde jamais sairá a Vida? Como tenho vivido? o que me motiva?  

Rev. Luiz Caetano, ost+
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