Os artigos deste blogue expressam o pensamento de seus autores, e não refletem necessariamente o pensamento unânime absoluto da comunidade paroquial. Tal unanimidade seria resultado de um dogmatismo restrito e isso contraria o ethos episcopal anglicano. O objetivo deste blogue é fornecer subsídios para a reflexão e não doutrinação. Se você deseja enviar um artigo para publicação, entre em contato conosco e envie seu texto, para análise e decisão sobre a publicação. Artigos recebidos não serão necessariamente publicados.

Pesquisar este blog

25 agosto 2015

Um pouco de História para deixar claro algumas coisas…

Boa Nova
Hoje em dia o adjetivo “evangélico” está substantivado, como identidade de grupos religiosos dos mais diversos, todos se afirmando “cristãos”, embora grande parte deles não professa exatamente a Fé Evangélica Cristã.
Entretanto, o desgaste sofrido pelo adjetivo “evangélico” leva as pessoas a pensarem que “ser evangélico” é exatamente ter a prática religiosa desses grupos, especialmente aqueles grupos em que a Graça e a Bênção são substituídas pela prosperidade material, pela compra de bênçãos e pela idolatria de seus líderes.
Em poucas palavras, de forma bem resumida, é bom lembrar que o adjetivo “Evangélica” foi atribuído por Martilho Lutero quando – excomungado pela Igreja de Roma – definiu seu grupo como Igreja Evangélica, não em oposição à Igreja Católica, mas afirmando a identidade de uma Reforma que deveria fazer a Igreja retornar sua confessionalidade à afirmação dos valores do Evangelho: a salvação pela Graça e pela Fé, e total obediência ao senhorio de Cristo, sempre com base nas Escrituras.
Aliás, “católico” e “apostólico” são outros adjetivos que foram substantivados como nome de Igreja ao invés de serem entendidos como qualidade universal da Igreja que vem dos Apóstolos; nesse sentido, todas as Igrejas que mantém seu vínculo histórico com o cristianismo primitivo, são católicas e apostólicas! Inclusive a Igreja Evangélica que surge a partir do pensamento de Martinho Lutero! e a maioria das Igrejas vindas do movimento da Reforma do Século XVI e, obviamente, as Igrejas Orientais, também conhecidas como Ortodoxas.
Na verdade, o movimento de Reforma da Igreja, que se estabeleceu a partir do século XVI, era uma aspiração mais antiga. Aliás, a tradição do Cristianismo relata muitas reformas acontecidas nos tempos antigos, quando a Igreja, circunscrita ao território do Império Romano, tinha de responder às ideologias vigentes na vastidão do Império.
Assim a Igreja Cristã, tentando ser fiel ao mandato recebido de Jesus Cristo e seus Apóstolos,  ampliou lentamente seu discurso doutrinário para responder aos anseios das pessoas de cada lugar e tempo do Império. Todavia, quando o Império desmorona no Ocidente (na Europa), a Igreja acabou se tornando o único vínculo de unidade e identidade dos diferentes povos que coabitavam no território europeu do Império. 
A Igreja acabou se tornando uma instituição estruturada, de governo hierárquico e absoluto – uma verdadeira monarquia absolutista - substituindo o Império Romano, dando uma certa uniformidade aos diversos povos europeus. Nesse processo, a Igreja acabou se tornando forte e poderosa, cujo papel político foi cada vez maior. Assim nasceu a Cristandade.  
É preciso ter bem claro que a tal “unidade institucional” da Igreja é datada do final do século IV e se fortalece nos dois séculos seguintes, à medida em que o Império Romano do Ocidente vai  se esfacelando. A Igreja Primitiva, e até o século IV, não era uma unidade institucional e nem doutrinária. Sua unidade era fundamentada no Kerigma, a pregação inicial dos Apóstolos (para saber mais sobre o Kerigma veja, por exemplo, o artigo em meu blogue pessoal, O Kerigma Cristão  - também, no mesmo blogue há vários artigos sobre História da Igreja, que talvez possam interessar ao leitor mais curioso)
Por sua vez, no Oriente, onde o Império permaneceu ainda mais mil anos, a Igreja acabou se confundindo com ele, pois era a religião oficial do Império. 
Assim, no Ocidente, assumindo poderes políticos cada vez maiores, tendo de fazer alianças com os novos senhores das antigas terras imperiais, a Igreja foi deixando de lado seu principal propósito: anunciar o Evangelho de Cristo (a Boa Nova), sendo sinal do Reino de Deus através de seu testemunho. Tal processo não foi imediato, mas lento e sofrendo muita oposição entre o povo cristão. Assim, por exemplo, surge o movimento monástico no Ocidente, e os Padres do Deserto no Oriente, cujo princípio de vida era a vivência evangélica (do Evangelho).
A Igreja Ocidental acabou criando um conteúdo doutrinário, dogmático e absoluto que passou a ser imposto a toda a Cristandade, e para isso acabou se aparelhando com os governos políticos para impor sua doutrina dogmática pela força, se fosse necessário. A Igreja, que deveria anunciar o Reino de Deus, se auto proclamou como o Reino!
A Reforma do século XVI pretendia rediscutir a Igreja, sua doutrina e sua prática, para que fosse mais evangélica e menos mundana. Vários modelos de Igreja surgiram a partir da Reforma, vários foram os reformadores, todos frutos de seu tempo; inclusive a Igreja Romana buscou reformar-se, no Concílio de Trento. Com o passar do tempo, o vigor da Reforma foi diminuindo, e as Igrejas assim estabelecidas acabaram por institucionalizar-se  de forma tão absoluta quanto a Igreja Romana. 
Mas sempre aconteceram novos movimentos de reforma, tanto na Igreja Romana, quanto nas Igrejas chamadas Protestantes (que surgiram a partir da Reforma do século XVI): os vários Concílios da Igreja de Roma, os movimentos de avivamento no universo Protestante, o Movimento Ecumênico que surge no século XIX entre as Igrejas Protestante, etc..
Deixando a história e vindo para nosso momento presente (salientando porém a importância de se estudar a História da Igreja Cristã), o que vemos hoje é uma grande traição aos princípio da Igreja Evangélica e da Tradição Cristã. 
De um lado, vemos a exploração da boa fé de pessoas simples e também de pessoas exageradamente ambiciosas (que buscam a riqueza a qualquer custo), com as tais ideologias da prosperidade proclamadas em grupos falsamente religiosos que se intitulam “evangélicos”. Por outro lado, vemos a tacanhice moralista de grupos ditos evangélicos e conservadores, que espalham preconceitos e “dogmas moralistas” e promovem a perseguição dos que são diferentes. 
Vemos também que as Igrejas – todas elas – acabaram se tornando estruturas burocráticas que mais se preocupam com a sua manutenção e perenização, esquecendo-se da sua única tarefa delegada por Jesus Cristo e pelos Apóstolos: anunciar a Boa Nova do Reino de Deus em Cristo. 
Novas Reformas devem surgir no horizonte da História da Igreja…
Rev. Luiz Caetano, ost+
===/===














Um comentário:

Edson Amaro de Souza disse...

Caro Caetano Grecco,
o que mais dói é ver um monte de gente seguindo um carro de som, no alto do qual fariseus incitam o ódio às minorias, alegando estarem numa "Marcha para Jesus", enquanto o Evangelho de Mateus, cap. 25, diz que Jesus gostaria que aqueles que o amassem fossem buscá-lo no rosto dos desvalidos.

Postar um comentário

Muito obrigado pelo seu comentário.
Seja breve e objetivo.